17.3.08

“Tem horas que a gente se pergunta, por que é que não se junta tudo numa coisa só?”


É com esta proposta que a multiartística trupe “O Teatro Mágico”, vem colecionando admiradores por todo Brasil. Em agosto de 2007, o público da cidade de Uberaba, Minas Gerais, se encantou e esgotou os ingressos para assistir a única apresentação da banda no Teatro Sesi Minas.
Numa fantástica idéia de reunir diversas manifestações artísticas como teatro, circo, poesia, dança, literatura e uma boa dose de improviso, os garotos de Osasco atuam no cenário independente há mais de 3 anos e meio e somam muitas prosas pra contar.
Em suas apresentações, a trupe sempre está maquiada e com figurinos que nos dão a nostálgica sensação de estarmos diante do picadeiro daquele bom e velho circo, que costumávamos ir às tardes de sábado.
As músicas do Teatro Mágico falam de situações do cotidiano. O que a trupe propõe, na verdade, é trazer à tona os vários personagens que moram dentro de cada um de nós. Mas tudo isso, é claro, sem perder o bom humor, que é característica marcante do grupo. Além de deixar, por onde passa, uma mensagem bacana de como a música pode ser usada, predominantemente, como uma manifestação da arte popular.
O hilariante e idealizador de “O Teatro Mágico”, Fernando Anitelli, falou com o Inspire sobre tudo o que envolve essa mistura compatível. Desde como aconteceu a formação da trupe até a importância da internet para a sobrevivência do grupo.
Então, “Senhoras e senhores, respeitável público pagão, Bem Vindo ao Teatro Mágico! Sintaxe à vontade...”

Como foi a reunião da trupe o Teatro Mágico?

Fernando: Trabalho com música há 15 anos. Fui para os EUA trabalhar de garçom e ganhar alguns dólares para gravar um Cd da maneira que eu queria. Em 2003 passei o ano inteirinho gravando o Cd solo “O teatro mágico – entrada para raros”. Na época não tinha banda, nem trupe. Então fui convidando amigos pra participar do Cd. Mais de 30 amigos participaram. Dentre eles, os percussionistas do Cordel do Fogo Encantando, a Simone Soul, que hoje é percussionista dos mutantes. O tempo todo eu tratei o Cd como se fosse uma peça de teatro, como se fosse um sarau amplificado. O Cd ficou pronto e então era preciso entrar na segunda fase desse projeto, que era torná-lo prático ao vivo, pois algumas pessoas que gravaram o Cd comigo não podiam me acompanhar porque já tinha seus trabalhos. Então, contratei alguns músicos e artistas que eu já havia conhecido em saraus e montei a trupe pra me acompanhar nesse projeto de misturar tudo o que fosse possível em cima do palco: teatro, brincadeira, improviso, poesia, circo. A primeira apresentação aconteceu dia 13 de dezembro com 3 horas e meia de duração. De 2003 pra 2007 a trupe vem se reciclando. A idéia é agregar novos músicos, novos artistas e sempre fazer um rodízio.

Como são as apresentações do Teatro Mágico?

Fernando: A idéia é de um sarau amplificado. No meio da apresentação a platéia sobe no palco e participa com coreografias, com palavras. Eu passei pra todo mundo que eu convidei pra participar desse projeto a idéia de que o público é uma extensão da trupe. Não é um show, é um encontro. A gente vai se encontrar nesse dia e fazer músicas e brincadeiras, mas com disposição, com tesão em fazer arte.

Qual a pretensão desse projeto?

Fernando: O teatro mágico é uma expressão. O tempo inteiro eu queria que o pessoal ouvisse tendo a sensação de estar num teatro. Quero cuidar desse projeto e não perder essa espontaneidade que existe no sarau de conversar com as pessoas, de brincar com a platéia e de se traduzir de uma outra maneira sempre. O que eu quero passar é que fazer misturas é interessante, fazer saraus é interessante, você trazer coisas que ninguém imagina. Brincar com a palavra é importante. Quebrar essa coisa de artista e platéia.




E nesse ano o Teatro Mágico vem fazendo shows por todo Brasil...

Esse ano que a gente começou a sair mais. No interior de São Paulo a gente conseguiu fazer uma boa divulgação. E tudo no boca a boca e usando muito a internet. Tipos de possibilidades que há 10 anos atrás não existia, pois éramos dependentes da TV, do rádio, e da gravadora. E agora a gente ta indo pra outros estados e isso é uma alegria danada pra todos nós.

Quais são as influências sonoras do Teatro Mágico?

Fernando – Eu gosto muito de Antonio Nóbrega, Zeca Baleiro, Lenine, Nação Zumbi. Gosto de gente que se relaciona com a arte em verdade. Hoje em dia no Brasil o artista é tratado como um produtor de entretenimento. Isso é um pecado porque você não tem que fazer o povo rir. O artista popular está atrás de uma expressão popular.

Essa maneira de usar a platéia como parte do espetáculo faz de cada show um acontecimento diferente...

Fernando - Já era diferente porque eu sempre faço a escalação. Já fiz apresentação em São Paulo com 46 pessoas. Mas pra tornar isso prático e caber dentro de um ônibus, tem que fazer um rodízio de artistas e de músicos. O que vai acontecer, pra gente é novidade, pro publico é novidade, pra quem está presente no espetáculo é uma única apresentação. Não vai ter outra igual.




Dessas tantas apresentações já feitas em 3 anos de meio de projeto independente, aconteceu alguma coisa inusitada que marcou o Teatro Mágico?

Fernando: Teve uma oportunidade que a gente tava começando a tocar nossa primeira música e acabou a energia que estava sendo puxada para os instrumentos. E como a gente está sempre de palhaço e trabalhando no improviso, eu falei pra platéia: “gente! não acredito! começou a apresentação agora e já acabou acabo o som?! Desce essa cortina e vamo tentar resolver isso agora!”. A cortina desceu e todo mundo gritava “porque parou...”. Deu uns 8 minutos e quando abriu a cortina e cada um da banda foi para um instrumento diferente e todo mundo deu risada. Continuamos o show e no final da apresentação o pessoal veio e disse: “meu, aquela cena que vocês fingem que acabou a luz é tão legal que chega a dar um certo desespero, parece que acabou mesmo”(rs). Teve uma outra vez que a gente foi cantar a música “só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você” e começaram a tacar várias rosas. O palco ficou cheio de rosas e a gente chorava tocando do tanto de carinho que sentimos do público. Então, essas coisas todas vão marcando a gente em detalhes.

Na música “O tudo é uma coisa só” tem um trecho que diz: “Se tudo que eu preciso se parece, por que é que não se junta tudo numa coisa só?”, que é exatamente o trabalho que vocês fazem. Mas o que você, Fernando, faz com o que não gosta ou não precisa?

Fernando: Eu simplesmente não busco. Procuro criar um campo de energia, me desvincular disso. Porque quando eu estou em cima do palco, to falando tudo o que eu acredito. É uma dificuldade conviver com essa exposição constante. Você expõe seus ideais e muita gente vai contra o que você acredita. Então, busco fazer um canto pra não deixar essa coisa entrar em mim. O que eu não gosto...passo! Eu quero simplesmente amadurecer, propor coisas bacanas. É esse o espírito.

O que é exatamente o Teatro Mágico?

Fernando: O Teatro Mágico não são essas pessoas, esses personagens, meus textos e roupas. O Teatro Mágico é o nosso cotidiano, em que todos nós somos personagens. Quem escreve nosso roteiro? A gente ta diariamente acordando porque e pra que? Que personagem que eu vou trazer a tona agora? Nos somos milhares de personagens. O jardineiro que só enxerga o joio e o trigo, perde a beleza das mil e uma flores que ocupam o seu jardim. Então é isso: não somos um em um milhão, nós somos um milhão em um. Essa possibilidade de trazer outros personagens pra minha vida, capazes de dialogar, de criticar, de olhar no olho, de se rebelar com consciência, com equilíbrio. Esses personagens estão todos dentro de nós. O Teatro Mágico é esse plano maior. O que eu tento mostrar é o Teatro Mágico que vai esperar todo mundo lá fora. Lá que você vai ter que pensar: Opa! Que personagem que eu to trazendo aqui? Quem sou eu? O que eu to fazendo? O que eu to agregando? O que eu to somando? Será que eu to sabendo me reciclar? Será que eu to sabendo olhar no olho e conversar direito? Então é isso que eu procuro trazer para as pessoas. Música livre, cultura livre, Cd barato, acesse o site e baixe as músicas se não tiver grana, pois é isso que vai fomentar a cultura, vai fazer com que a arte independente tenha sobrevida no país.

Sinta-se no show do Teatro Mágico:


Conheça mais: www.oteatromagico.mus.br


*** Entrevista publicada na 1ªEd. do fanzine INSPIRE

Um comentário:

Léo Freitas disse...

Boa Parron!
muito boa a matéria !
prazerzaço de falar com o Anitelli heim???

boa!

Bom trabalho pra ti!

Salve o nosso Teatro!