7.7.09

Uma nada mole vida

A rotina dos vendedores ambulantes na cidade de Uberaba


O sentimento de insegurança surge cada vez que o dia começa. Não se sabe qual será o lucro. Esse é o sentimento de muitos vendedores ambulantes que ganham a vida através da comercialização de mercadorias pelas ruas da cidade de Uberaba. Uma rotina difícil, que exige criatividade e um jogo de conquista para conseguir novos clientes.

Relógios, cintos, óculos, isqueiros, frutas e até algodão doce fazem parte da salada de produtos oferecidos por esses trabalhadores que, por onde passam, usam do grito e das frases inusitadas para chamar a atenção dos cidadãos.

Geralmente vindos de regiões como o norte e o nordeste do país, essas pessoas deixam suas terras em busca de uma nova vida no sudeste do país. Saem de lá com o sonho de conquistar oportunidades de emprego e melhorar suas condições financeiras.

Infelizmente, nem todos tem essa sorte. O que acontece quando esses brasileiros chegam as grandes cidades é a falta de emprego que vem junto com o despreparo profissional para competir em um mercado de trabalho saturado.

Sem mais possibilidades de retornar a sua cidade natal, essas pessoas se veem obrigadas a arrumar uma forma de sobreviver. Surge então no trabalho informal uma maneira de garantir a renda do mês.

Essa é a história de José Roberto Alves Alexandre, de 23 anos, que trabalha como vendedor ambulante há 14 anos e saiu de Aparecida, na Paraíba, para morar em Campinas, estado de São Paulo, em busca de melhorar de vida. Como a fiscalização nas cidades grandes é mais severa que no interior, em 2003, José Roberto mudou-se para Uberaba e começou a vender suas mercadorias pelas ruas do centro da cidade. Nunca trabalhou com carteira assinada porque, segundo ele, não gosta de ninguém “pegando no pé”.

Hoje, José Roberto sustenta a esposa e o filho através dos óculos e relógios que compra em São Paulo para revender. Mas ele sabe que por trás da liberdade de ser um trabalhador informal existe a insegurança de não saber como será o futuro. “Na vida de vendedor ambulante tem dia que você não vende nada e tem dia que você vende bastante”; afirma José Roberto, que completa dizendo que pretende continuar a trabalhar como vendedor ambulante.

Com a curta experiência de ter trabalhado durante quatro meses com carteira assinada para uma granja de Uberlândia, João de Araújo, de 40 anos, é outra personagem que faz parte da classe de trabalhadores informais do país. Também da Paraíba, João mudou-se para Uberlândia porque vivia em condições difíceis na sua cidade.

Acostumado a trabalhar nas ruas como vendedor, não conseguiu permanecer na granja e decidiu mudar-se para cidade de Uberaba, na qual mora há 15 anos. “Eu gosto de trabalhar na rua porque eu fico mais a vontade. Tem mês que se ganha muito bem, tem mês que não se ganha nada, mas com o meu trabalho dá para pagar meus gastos”; relata João, que não trocaria as ruas para trabalhar em um camelódromo porque vender pelas ruas é mais fácil de conseguir clientes.
Sobre as mercadorias que comercializa, João opta por vender novidades que sejam baratas, porque vendem mais.

O algodão doce que vende remete a infância. Gaspar Ferreira da Silva, de 44 anos, que construiu a vida e a família em um parque de diversões, sempre trabalhou como vendedor ambulante, que já somam 19 anos.

Nasceu em Uberaba, mas aos 16 anos resolveu viajar e só retornou aos 30 anos. Passou por muitas dificuldades financeiras nesses anos de trabalho informal, mas que também permitiu que ele conquistasse uma casa própria na qual vive hoje com a mulher. “Eu agradeço a Deus todo dia na hora que eu saio (para trabalhar) e na hora que eu volto para casa, porque se eu ganhar para viver já tá bom”; relata Gaspar.

Nunca trabalhou com carteira assinada e acredita que isso não dá futuro. “A pessoa trabalha a vida toda e nunca tem nada”; afirma Gaspar.

O vendedor conta que a fiscalização passa todos os dias pelo calçadão da cidade e toda vez é a mesma correria. Os ambulantes sabem o quanto é importante manter a amizade entre eles, pois sempre precisam da ajuda um do outro para que os fiscais não tomem suas mercadorias. “Eu acho que os políticos deveriam permitir pessoas que não estejam fazendo nada de errado, não estejam vendendo droga ou cometendo algum crime, que deixassem trabalhar honestamente como a gente trabalha”; opina Gaspar sobre a existência da fiscalização que atrapalha o trabalho informal.

A vida desses três vendedores ambulantes é apenas um retrato dos milhares de trabalhadores do Brasil, que diante da falta de opção na vida e da necessidade de sobreviver, buscar no trabalho informal um lugar ao sol.

Texto: Michelle Parron
Fotos: Léo Freitas e Michelle Parron

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